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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O be-a-bá do blablablá: as primeiras palavras do bebê

O be-a-bá do blablablá: as primeiras palavras do bebê


Quando a dificuldade de comunicação de seu filho pode se transformar em uma preocupação real?

Ana Carolina Addario, especial para o iG São Paulo
Ambiente e genética se cruzam para determinar a idade em que surgem as primeiras palavras
Desde o primeiro contato com o bebê, no momento de seu nascimento, uma das principais alegrias de qualquer mãe ou pai é ouvir a primeira palavra que sairá da boca de seu filho. Se será “mama” ou “papa”, tanto faz. O importante é que desde muito cedo a comunicação entre pais e filhos pequenos seja estabelecida de maneira efetiva, a fim de que antes mesmo de largar a fralda seu bebê já saia por aí rasgando o verbo. E olha que isso é mesmo provável e possível.
Não que antes mesmo de completar seu primeiro aninho os bebês estejam prontos para sair por aí bradando o hino do time do coração de seu pai, ou cantando os ingredientes da receita do bolo favorito da sua mãe. Mas uma coisa é verdade: quem exercita, desde o momento do nascimento, a comunicação – ainda que inicialmente gestual – com seus filhos, contribui para que eles estejam mais preparados para encarar o desenvolvimento da comunicação oral nas primeiras etapas da vida.
“Muito antes da emissão das primeiras palavras, os bebês já estão familiarizados com a linguagem e se expressam de diversas maneiras, como pelo choro e pela movimentação corporal. O feto é capaz de ouvir, ainda que de forma atenuada, a partir do quinto mês de vida intrauterina e desde as primeiras semanas de vida o bebê prefere a voz humana entre outros sons, particularmente se essa voz for a materna”, conta Rosa Resegue, presidente do departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo e coordenadora do Projeto Desenvolver da Unifesp.
Até os 8 meses, o vínculo comunicativo que o bebê estabelece com o mundo ainda não é intencional, mas é a primeira maneira que o cérebro encontra para comunicar seus anseios e necessidades. Aos 9 meses, ele passa a usar gestos, movimentos do corpo e vocalizações. E, entre 11 e 12 meses, a fala pode começar a surgir. O cronograma não é regra, mas passar demais destes períodos para começar a esboçar os primeiros fonemas pode ser um sinal de que seu filho está sentindo dificuldade para aprender a se comunicar.
Influências biológicas x ambiente

Junte as influências biológicas e culturais que a criança experimenta nos primeiros anos de vida ao processo de maturação neurológica característico de seu crescimento e você terá o sistema perfeito para ajudar a desenvolver em seu filho as habilidades da linguagem e de muitas outras coisas. No entanto, se algum desses fatores encontrar obstáculos para se completar, pode ser que leve um pouco mais de tempo para seu bebê soltar o verbo.

Jaime Luiz Zorzi, fonoaudiólogo especializado em linguagem, doutor em educação e autor, entre outros, do livro “Aprendizagem e Distúrbios da Linguagem” (editora Artmed), conta que os fatores de retardamento das habilidades orais podem ser dos mais variados. “Distúrbios funcionais, falhas neurológicas, problemas de amadurecimento do sistema nervoso central, bem como surdez ou outros tipos de deficiência auditiva podem ser grandes responsáveis por dificultar o processo de aprendizagem da fala em crianças pequenas”, conta. Por isso, quando os primeiros sinais de dificuldade ou desinteresse em comunicação aparecem, é necessário se consultar com especialistas a fim de rastrear a verdadeira razão do problema.

Episódios de otite (inflamações do ouvido), tão frequentes nas primeiras fases da vida, também podem contribuir para que o bebê tenha mais dificuldades na hora de aprender a falar. O desenvolvimento da fala está diretamente relacionado à audição. Como a infecção no ouvido pode acumular cera no ouvido da criança, ela não consegue escutar corretamente a fala de seus pais e das outras pessoas, e tem mais dificuldade de emitir sons que se pareçam com os deles.

De acordo com Anne Elise Vivo Rodrigues, fonoaudióloga e especialista em Linguagem Infantil pela Universidade de São Paulo, o repertório de sons que a criança adquire, e que vai inspirar sua própria fala, se desenvolve naturalmente de acordo com cada ano que a criança completa. Fonemas com “B”, “M”, “P” e “N”, por exemplo, são os mais fáceis de se adquirir. Como “mama” e “papa” são as palavras que a criança mais escuta, e contêm os fonemas mais fáceis de se reproduzir (até 1 ano e meio), os pais corujas de plantão podem se alegrar. Já encontros consonantais com “R” e “L” são os mais complicados, sendo verdadeiramente assimilados apenas por volta dos 5 anos.

Sinal amarelo
No meio desse desenvolvimento, chamar “água” de “aga” aos 3 anos é normal. Os pais devem começar a se preocupar apenas quando a criança mostrar desinteresse pela comunicação. Se aos 2 anos de idade, período em que a criança interage com o ambiente a pleno vapor, ela não se anima com a fala dos pais ou demonstra apatia para se expressar, é hora de consultar um especialista.
E tome cuidado na intervenção. “Quanto mais afastada da interação, mais insegura a criança se sente para interagir. Se ao invés de tentar corrigir a situação ludicamente os pais pressionam o filho a falar direito, a criança se sente fragilizada e distanciada da possibilidade de comunicação com o mundo”, explica Zorzi.

Por outro lado, estimular seu filho a falar errado, porque é “bonitinho” ouvi-lo dizer “aga” no lugar de “água”, é um erro tão fatal quanto reprimi-lo. “É importante que os pais, mesmo sem corrigirem a criança, falem de modo correto com ela evitando que as pequenas trocas se perpetuem. Espera-se que até os 3 anos a criança tenha uma fala que possa ser compreendida por todos e não apenas por seus pais e familiares”, diz a pediatra Rosa Resegue.
Nem elogiar o erro, nem pressionar pelo certo. O ideal para continuar estimulando a criança a exercitar novos fonemas é fazer com que a aprendizagem aconteça, desde muito pequeno, pela interação natural entre pais e filhos. “Quando a criança é pequena, por volta de 1 ano de idade, e sua comunicação ainda é mais gestual, não basta dar na mão tudo o que ela aponta. É preciso falar para ela como cada objeto de seu desejo ou necessidade se chama, para ela se acostumar com os sons”, sugere Anne Elise. “Para as crianças em fase escolar, a ideia é sempre conversar sobre como foi seu dia, o que ela fez, de modo que ela treine sua fala em conversas com a família”, completa a fonoaudióloga.

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